Docente Ana Andrade lançou o seu primeiro livro e a 2ª edição do curso “Public Speaking”

Terça-feira, Outubro 20, 2020 - 16:31

A docente de Argumentação e Retórica escreveu o livro “Falar em Público –  Como vencer a ansiedade, ser autêntico e fazer-se ouvir” e lecionou mais uma edição do curso de Public Speaking, onde são trabalhadas competências comunicativas.

Ana Andrade - Falar em Público 2

O curso destina-se a qualquer pessoa que procure aperfeiçoar a sua comunicação e ultrapassar o medo de se expressar para uma audiência. Os formandos terão a oportunidade de descobrir, através de diferentes técnicas, como é que podem melhorar a sua oratória em vários contextos.

Explore o universo da comunicação verbal, com Ana Andrade:

Quais são as principais dificuldades que os alunos (do 1ºano da licenciatura em Direito e dos cursos breves que leciona) apresentam quando se expressam verbalmente?
Muito francamente, creio que a maior dificuldade tem o seu cerne muito antes do ato de falar: radica no ato de pensar - e daí eu dedicar um capítulo do livro à tríade "pensar, argumentar, comunicar", porque não acredito que se possa pretender falar bem sem que antes se pense profunda e metodicamente sobre qualquer que seja o tema sobre o qual queremos expressar-nos ou emitir opinião. Neste sentido, é comum receber o comentário de que falar em público tem muito mais que se lhe diga do que se pensava: a maior dificuldade reside inclusivamente na reflexão sobre o ato de pensar.


No fim do ano letivo/do curso, quais são as maiores diferenças na oratória dos seus alunos?
É inegável que os alunos da Faculdade de Direito da Católica Porto desenvolvem competências muito fortes em termos de expressão oral e escrita - mas não seria justo, da minha parte, reivindicar mais do que uma percentagem mínima da responsabilidade desse fenómeno. A verdade é que, em contacto com a linguagem e a mundividência jurídicas, bem como com os reputados profissionais que constituem o corpo docente da nossa faculdade, os alunos como que apreendem, tanto por imitação como intencionalmente, uma forma de pensar o mundo rigorosa e refletida que, inevitavelmente, se reflete na sua oratória. Gosto de pensar que os estudantes que passam por Argumentação e Retórica estão mais atentos a essa circunstância e procuram, com as ferramentas que lhes foram dadas na unidade curricular, incrementar ativamente as suas competências no domínio da retórica.


Para futuristas advogados e juristas, o poder de argumentação é essencial. De que forma é que essa capacidade é trabalhada na disciplina de Argumentação e Retórica?
Como referi anteriormente, muito antes do falar em público, trabalhamos pensamento crítico e a argumentação - que são, em rigor, o cerne da disciplina, na medida em que, uma vez sabendo articular raciocínios coesos e informados, isentos de falácias e bem fundamentados, expressá-los será o menor dos trabalhos. Assim, estudamos os alvores da retórica e percorremos 25 séculos de história, para que, com nomes como Aristóteles, Cícero ou o contemporâneo Perelman, aprendamos tipos de argumentos, falácias argumentativas, modos de estruturar o discurso argumentativo - que os alunos põem em prática em diferentes momentos de avaliação, em que redigem textos argumentativos sobre temáticas do seu interesse.
 

O receio de comunicar em público é comum a muitas pessoas. Acha que este medo se deve à falta de ferramentas de comunicação?
Francamente, creio que esse receio radica em algo muitíssimo mais prosaico: o "olhar do outro", de que fala Aristóteles na Ética a Nicómaco. Antes de pensarmos sequer se temos ou não ferramentas de comunicação (ou algo para dizer, que é infinitamente mais importante), tememos o que achamos que os outros vão pensar de nós. Repare-se: não o que os outros pensam de nós, porque não temos acesso a pensamentos alheios - mas apenas o que achamos que um possível auditório pensará a nosso respeito. Ora como tendemos a projetar nos outros os nossos medos, consideramos que seremos enxovalhados pela plateia. Esta glossofobia (medo da palavra, etimologicamente) será ultrapassada se pensarmos o ato de falar em público como algo que conseguimos dominar, controlar - como qualquer outro ato que se aprende, a cada dia, a fazer melhor.


Para si, o que significa ser capaz de dominar a retórica? 
Dominar a retórica é ter a capacidade de transmissão de mensagens claras e bem construídas, de tal forma que o auditório, qualquer que ele seja, fique convencido da sua pertinência. Repare-se: os outros não têm de concordar connosco, só têm de reconhecer a qualidade e verosimilhança do nosso pensamento, sobre matérias que, obviamente, não reúnem consenso.

Num artigo de opinião para o Público, a docente, que também é responsável pelo Laboratório de Expressão Escrita da Faculdade de Direito, partilha que “em democracia, dominar a retórica é sinónimo de poder – seja ele institucional ou pessoal, na medida em que fazermo-nos entender e cativarmos o outro, por meio do nosso discurso, ao dar a conhecer as nossas crenças ou propostas, é essencial para que ele seja convencido por nós.”