Futuro Sustentável: Universidade Católica acolhe conferência que celebra os 50 anos do jornal Expresso

Sexta-feira, Setembro 22, 2023 - 16:26

A Universidade Católica Portuguesa (UCP) no Porto acolheu uma conferência organizada no âmbito das comemorações dos 50 anos do jornal Expresso. “Futuro Sustentável” foi o tema que esteve no centro da agenda do evento e que permitiu reforçar a pertinência do envolvimento de toda a sociedade – academia, organizações, empresas e meios de comunicação social - rumo a um mundo capaz de satisfazer as necessidades do presente, sem comprometer as das gerações futuras.

“Dou os parabéns ao Expresso pelos seus 50 anos de vida cívica bem vivida”, começou por dizer Isabel Capeloa Gil, reitora da Universidade Católica Portuguesa, durante a intervenção de abertura. É um jornal que “representa a grande tradição do jornalismo livre e de qualidade”, acrescentou. Isabel Capeloa Gil comparou a missão do jornalismo com a da Universidade - “A Universidade, tal como o jornalismo, não é um espaço de conforto” – e salientou que falar de Sustentabilidade é um “tema arriscado”, que deve ser entendido “como uma urgência e um gesto de responsabilidade para com as gerações futuras”.

João Vieira Pereira, diretor do Expresso, partilhou várias iniciativas e projetos que o jornal leva a cabo no campo da Sustentabilidade, mostrando o quão “importante” é esta área e o quão essencial é produzir conteúdos de qualidade. “O jornalismo livre e de qualidade só é possível quando temos a confiança dos nossos leitores”, afirmou.

Pedro Sousa Carvalho, jornalista do Expresso, moderou os dois painéis que integraram a conferência: “Inovação e a Economia Circular” e “Direito, Sustentabilidade e Educação”. Duas mesas redondas que, através de testemunhos vários, desafiaram a sociedade para a transformação. O evento de comemoração dos 50 anos do Expresso decorreu a 21 de setembro, no Auditório Carvalho Guerra, no campus do Porto da UCP.  

 

Inovação e Economia Circular

A “Inovação e a Economia Circular” foram o mote da primeira mesa redonda que contou com a participação de quatro oradores de áreas muito diferentes, embora todos com uma direção e uma vontade em comum: a construção de um mundo mais sustentável.

João Pinto, docente da Católica Porto Business School e co-líder do Insure Hub, referiu que a Sustentabilidade e a Responsabilidade Social “estão na missão e na estratégia da Universidade Católica desde sempre”. Reforçou: “é core para a Católica”. Enquanto co-líder do Insure Hub, João Pinto partilhou a missão desta iniciativa, enquanto “exemplo de como a Universidade se pode aliar ao tecido empresarial rumo a mundo mais sustentável.” João Pinto salientou as várias áreas de atuação do Insure Hub, nomeadamente o “trabalho com organizações no apoio à construção de estratégias”, a “promoção da inovação e a sua transferência” para a sociedade, o foco na “literacia em sustentabilidade” e a formação e educação, através do “lançamento de cursos e programas”.

Ana Carvalho, CEO do Banco de Fomento, foi desafiada com a questão “Como é que a sustentabilidade se cruza com um banco?” A oradora explicou a missão do Banco Fomento - “somos um banco que colmata falhas de mercado” – e partilhou que o banco foi criado com a “missão específica de ser um banco verde”, capaz de “ajudar as empresas na transição”. “Nascemos casados com o foco de apoiar a sustentabilidade”, conclui.

Para Catarina Lemos, member of the board da Real Companhia Velha, a “ligação à academia é muito importante para a sustentabilidade”, dando o exemplo de parcerias que a empresa estabeleceu com Universidades, entre as quais com a Universidade Católica, e que permitiram aumentar o conhecimento e a capacidade de atuar. Catarina Lemos explica que a sustentabilidade está na génese da Real Companhia Velha, uma vez que “foi criada pelo Marquês de Pombal para garantir a sustentabilidade do Douro.” “Não é possível uma empresa avançar para a sustentabilidade, para a transição digital e para a economia circular se não alargar o seu campo de trabalho”, conclui.

João Pedro Azevedo, CEO da Amorim Cork Composites, também participou nesta mesa redonda, tendo tido a oportunidade de partilhar que “o modelo de negócio da Corticeira Amorim assenta todo verticalizado na economia circular”. O orador referiu, também, que, já em 1963, foi tomada uma decisão importante neste campo: “fundar uma empresa exclusivamente para desenvolver aplicações com desperdícios de cortiça da indústria da rolha”. “Hoje em dia não desperdiçamos um grama de cortiça” e “estamos comprometidos com o objetivo de, em 2030, atingirmos os 100% de valorização de resíduos”. Também a Inovação é “central” na missão da Corticeira Amorim, por isso, uma “fábrica de inovação”: “O ponto de partida são sempre as propriedades da cortiça. Exploramos a nível mundial nichos de valor onde a cortiça possa ser aplicada.”

 

Direito, Sustentabilidade e Educação

O segundo painel da conferência reuniu mais quatro oradores, desta vez em torno do tema “Direito, Sustentabilidade e Educação” e constituiu mais uma oportunidade de reflexão e partilha de experiências. 

Manuel Fontaine, diretor da Faculdade de Direito – Escola do Porto da Católica, abordou questões como a “dumping ambiental” e as “cláusulas verdes”, tendo sido abordado o anúncio do primeiro-ministro britânico de abrandar as metas para a transição energética. Manuel Fontaine, também, salientou o importante “papel da educação e da universidade.” O diretor deu a conhecer as “disciplinas transversais da Católica dedicadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, que reúnem estudantes e professores de diferentes faculdades e áreas de conhecimento: “trata-se de uma dinâmica interdisciplinar que visa a sustentabilidade”.

O diretor da Católica Porto Business School (CPBS), Rui Soucasaux Sousa, reforçou o papel das Universidades na “educação e na investigação”: “a Católica tem um real compromisso com a sustentabilidade, estamos nesse posicionamento e, por isso, empenhados em passar para a prática. O tema não pode ficar só dentro de uma sala de aula.” Rui Soucasaux Sousa deu a conhecer uma recente iniciativa da CPBS, intitulada “Global Education Certificate”: “trata-se de um suplemento ao diploma. A ideia é certificarmos as atividades extracurriculares que permitiram aos estudantes adquirir esta perspetiva global.” É um incentivo a que se envolvam em atividades e projetos, na certeza de que os ajudarão “não só a entrar no mercado de trabalho, como, também, a serem melhores cidadãos.”

Ivone Rocha, partner na Telles de Abreu Advogados, afirmou que “as diretivas ajudam a construir este mundo sustentável”, que as empresas devem “ver em cada requisito uma oportunidade” e que “a fiscalidade só é verde se tiver como destino o benefício ambiental.” “Na Telles de Abreu Advogados temos uma equipa que se dedica em exclusivo a estes temas e atua na componente punitiva e na preventiva ou reativa. É preciso uma aprendizagem contínua”, explica. A oradora alerta: “Temos de aprender a interiorizar o futuro no presente. Hoje, temos na mão o destino de quem vai viver a seguir.”

Luís Magalhães, partner e head of Tax na KPMG, partilha que “temos uma equipa de dezenas de pessoas a trabalhar nestes assuntos. Ajudamos as empresas a perceber em que estado estão, qual a sua exposição a riscos e mapeamos o conjunto de processos que é preciso fazer.” O orador partilhou, também, que, atualmente, “as empresas podem usufruir de um conjunto de benefícios e incentivos relativamente a estes ajustamentos. O Direito Fiscal pode ser usado como indutor de comportamentos”. “O papel do Direito e da regulação na sequência dos acordos de Paris foi decisivo. Normalmente, o Direito vai atrás da realidade social, neste caso o Direito está à frente”, acrescentou.

A Universidade Católica Portuguesa juntou-se ao Expresso para celebrar o seu 50º aniversário, tendo acolhido a conferência das comemorações no seu campus no Porto. Deste evento, prevalece o desejo de um “Futuro Sustentável” e a convicção de que, como afirmou a reitora da UCP, “não nos perdoarão a falta de coragem de inverter o rumo e de fazer diferente.”