Sessão Premium ADN Jurista: a política portuguesa sem filtros

Quinta-feira, February 27, 2025 - 12:41

A política portuguesa tem tanto de insólito como de revelador. Foi este o mote da apresentação do livro “Só neste País”, que marcou a mais recente sessão Premium ADN Jurista, com os autores – Liliana Valente in situ e Filipe Santos Costa, a partir do Japão – e os seus comentadores, João Pedro Matos Fernandes, ex-Ministro do Ambiente e da Ação Climática, e Sandra Sá Couto, jornalista e editora geral da RTP. Num debate informal e sem rodeios, falou-se de memória, dos insólitos políticos e do enfraquecimento dos órgãos de comunicação social.

"Há facetas da política que a maioria das pessoas desconhece", mencionou Sandra Sá Couto, ao esclarecer que a obra revela a parte mais cómica da política e dos seus protagonistas no decorrer de meio século de Democracia. De acordo com João Pedro Matos Fernandes não deixam de ser histórias tristes “de pequenos abusos, soberbas, de aldrabices, de homens. E digo homens de propósito porque praticamente não há histórias de mulheres. Infelizmente”.

Sobre silêncios, Liliana Valente reforçou a omissão política atual: "Eles profissionalizaram-se, aprenderam a falar menos de forma intermediada porque podem. Com as redes sociais podem falar diretamente para o público, sem ninguém os confrontar com perguntas. Como há menos escrutínio, os jornais vão morrendo e os políticos remetem-se ao silêncio". A jornalista alertou ainda para o impacto dos algoritmos das redes sociais, que filtram a informação que chega ao público, tornando o debate ainda menos plural.

Filipe Santos Costa, por sua vez, destacou o poder do humor político e a importância da memória para tempos difíceis como estes. E é precisamente entre o riso e a memória que o livro se posiciona: um registo histórico, sob o prisma do caricato e bem-humorado que, no fundo, nos obriga a olhar para a política com mais atenção.

A discussão passou ainda pelo populismo, pela influência dos media e pela proliferação de canais noticiosos 24 sobre 24 horas, alterando a relação das pessoas com a informação.

A sessão terminou com uma reflexão preocupante sobre a verdade – ou melhor, sobre a facilidade com que as mentiras se tornam verdades. No final, ficou claro que, Só Neste País, não é apenas um livro que diverte; é um alerta para a forma como a memória coletiva se constrói – ou se apaga. E se há coisa que a política mundial já provou é que, sem memória, a história repete-se.