Salvador Gonçalves decidiu unir as suas duas grandes paixões – a música e o Direito – para a criação de um projeto que procura estimular o ensino musical nos jovens que têm dificuldades económicas ou sociais.
Com o apoio do IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional), o sonho do estudante do 3ºano da Licenciatura em Direito está agora prestes a materializar-se.
Conversamos com o estudante acerca deste plano para o seu futuro:
Em que consiste o seu projeto, que alia a música ao Direito?
Desde criança que frequento academias de música, tornando-me aos 16 anos autodidata em diversos instrumentos. Com esta base, fiz também parte de uma orquestra e algumas bandas ao longo dos anos. Quanto ao Direito, tendo adquirido alguma experiência prática no estágio que frequento, concluí que a vida de advogado não me satisfaria, pelo que iniciei um ciclo de pensamentos de modo a tentar encontrar o que, de facto, me poderia fazer feliz no meu futuro profissional.
De facto, desde criança que o que mais gostava de fazer era a música, mas todas as minhas crenças num futuro nessa área acabavam por ser desconsideradas devido ao nicho de mercado e dificuldade de singrar na área.
De qualquer modo, decidi arriscar. Assim, no início do presente ano, num momento de desatino, iniciei uma pesquisa sobre financiamentos jovens, tendo encontrado a utopia no Instituto do Emprego e Formação Profissional. A minha ideia seria abrir um estúdio de gravação e produção musical, no qual pudesse também lecionar o ensino artístico e fornecer salas de ensaio para bandas e projetos em desenvolvimento.
Ainda assim, tudo era demasiado sonhado para ser realidade, até que, enviada a candidatura, fui obtendo consecutivos apoios e aprovações pelas entidades competentes, pelo que neste momento me encontro já na última fase de reunião de orçamentos para a conclusão do projeto, pretendendo iniciar as obras no espaço ainda durante o verão deste ano.
Contudo, ainda sou estudante de uma licenciatura riquíssima em saídas profissionais, pelo que não desejaria que todo o meu esforço até ao presente momento fosse em vão - nem o empenho económico dos meus pais.
Como poderá um futuro jurista aliar a música ao Direito?
Todos os músicos necessitam de agenciamento e estão envoltos, constantemente, num turbilhão de contratos celebrados com as mais diversas entidades profissionais, pelo que há uma oportunidade de mercado por explorar, na qual os licenciados em Direito se poderão aprofundar.
Em suma, enquanto não termino a licenciatura, o estúdio funcionará como acima descrevi, dispondo salas de ensaio, lecionando aulas de formação musical a crianças em situações de dificuldade social (tendo de momento averbada com algumas instituições de solidariedade social tal oferta) e produzindo faixas aos músicos que procurarão o projeto. Assim que terminar a licenciatura, o projeto evoluirá, começando eu a oferecer o meu apoio jurídico aos artistas e realizando esse acompanhamento personalizado a cada músico.
De que forma é que prevê a concretização prática desta sua ideia?
Tendo conseguido um apoio monetário por parte de uma grande entidade, começo a perceber que me encontro numa situação em que poderei ser apoiado por amigos e colegas, pelo que reuni uma pequena equipa de amigos estudantes e recém-licenciados nas mais diversas áreas (Gestão, Engenharia Informática, Engenharia Civil, etc...) para me auxiliarem a concretizar este meu sonho e, em contrapartida, dar-lhes-ei alguma experiência profissional.
Como não tenho conhecimento nas áreas, auxiliar-me-ão na gestão das contas e financiamento, construção do website, planificação das obras para o imóvel onde alocarei o estúdio, entre outros.
No âmbito do Direito, começo agora a estudar alguma escassa doutrina sobre a área artística de modo a me começar a preparar para o que aí virá. Felizmente contarei também com a ajuda de profissionais na área que "apadrinharam" este projeto e me cimentarão os alicerces para que possa ser bem sucedido.
O que é que pretende alcançar através deste projeto?
Principalmente, procuro com este projeto a realização de um sonho de criança que julgava ser impossível: Fazer vida da música. Procuro também ajudar artistas em desenvolvimento que não têm locais para ensaiar, gravar ou produzir os seus projetos devido aos preços praticados na zona do Grande Porto, bem como incitar o ensino musical e a sua importância nos jovens que se encontram em dificuldades escolares, familiares e sociais, de modo a que se sintam ajudados pela música, tal como eu senti.
Quanto ao Direito, pretendo descodificar este "bicho de sete cabeças" e simplificar a vida aos artistas que somente querem partilhar a sua arte e não têm a necessidade de se preocuparem ou, por falta de conhecimento, serem prejudicados pela vertente jurídica, quando temos profissionais belissimamente preparados para os libertarem deste fardo.
Qual é o papel que as atividades extracurriculares desempenham no seu dia-a-dia e, também, na sua forma de encarar o curso?
Sendo eu membro da Tuna da Universidade Católica Portuguesa desde o 1.º semestre da licenciatura, sinto que esta Associação, sob a forma dos seus membros me ajudaram a ser um melhor estudante, profissional e pessoa. A experiência que um estudante adquire na Tuna é indescritível: Não só pelo contacto com ex-estudantes e estudantes mais velhos, mas também a partilha de experiências com colegas de outros cursos, torna este grupo académico numa família universitária que almeja o sucesso, não só musical, mas também académico dos seus participantes.
O sufoco de um caloiro universitário é grande e o choque nesta nova realidade pode ser difícil de superar, pelo que o papel do contacto com alunos com mais experiência é fundamental para a adaptação dos novos estudantes. Sinto que o meu dia-a-dia como universitário, bem como o meu trajeto escolar, não teriam sido tão satisfatórios caso não tivesse experienciado a realidade de um grupo académico tão rico quanto a Tuna.
No seu 2ºano de licenciatura conseguiu obter um estágio de verão que se prolongou durante muito tempo. O que o levou a tomar esta iniciativa e que competências é que desenvolveu ao longo dessa experiência?
Como é de conhecimento geral, é rara a circunstância em que o estudante de Direito consegue um estágio sem ser finalista. De qualquer modo, recordando os ensinamentos da Dr.ª Ana Martins no programa ADN do Jurista, "o estudante de Direito não pode ter medo de arriscar". E assim o fiz. No verão de 2021 comecei a enviar currículos para os mais diversos escritórios de advocacia na busca de um estágio de verão que me auxiliasse no contacto profissional, tendo conseguido uma resposta afirmativa de um advogado sito em Vila Nova de Gaia.
Assim, em junho de 2021 iniciei o meu "estágio de verão" que acabou por se estender até ao dia de hoje por vontade das partes.
Desde que obtive esta experiência que comecei a ver a licenciatura com outros olhos. O contacto profissional e pessoal que se ganha nestas vivências são imprescindíveis na formação de qualquer jurista. A partir desse momento, os casos práticos ganhavam um rosto e todos os ensinamentos que me são constantemente passados pelos meus responsáveis, me surgem em cada momento de avaliação ou aprendizagem.
Sendo o Direito uma área secular, a evolução temporal é essencial, mas a aquisição de conhecimento com base no saber de quem já neste domínio tem sucesso é primordial na formação de qualquer estudante.
A 1ª fase de candidaturas à Licenciatura em Direito está aberta.